Dia das Mães em tempos de pandemia

*Texto escrito originalmente em 20 de abril de 2020.

Sentada ao computador eu olho a vista. Sim, tenho uma bela vista, com colinas, casinhas, o trilho do trem, e ouço galos cantarem. Parece até mentira que estou a 5 min a pé da estação da cidade e a 10 min do centro. Parece uma paisagem descrita nos livros onde a personagem principal é também uma autora e escreve vendo pela janela as colinas e o trilho do trem.

Olho aquele post it amarelo que me chama dizendo que tenho que fazer o imposto de renda e pagar o condomínio. Contraste brusco com minha paisagem bucólica. Sei que tenho aulas pra preparar, videoaulas para gravar, curso online para fazer e tantas, mas tantas outras obrigações absolutamente prementes, entre elas colocar o feijão pra cozinhar.

Ainda assim me perco no voo das andorinhas, a cabeça apoiada na mão, a mão apoiada na mesa. E sinto como se fosse quase impossível me mexer, como se estivesse travada naquele momento. A primavera que vejo da janela é a mais linda que vimos nos últimos 20 anos, talvez 50 anos, embora aí eu já não possa atestar, ou até mais.

Coloco as mãos no abdômen, que já começa a reclamar de estar nessa posição, ligeiramente inclinado para frente. Se agora já me incomoda, como será daqui alguns meses? Olho pro voo das andorinhas e me pergunto, que tipo de loucura estou fazendo. Que mundo é esse que meu filho ou filha conhecerá? Será que trarei vida ao mundo bem no momento de um cenário apocalíptico, com doença, mortes, máscaras, medo e solidão?

Ou será que conseguiremos, enquanto humanidade, sociedade, nos reinventar, e coexistir com a mais bela primavera dos últimos tempos? Será que meu descendente crescerá num mundo mais solidário, onde as pessoas partilham mais, se preocupam mais com os entes queridos, e com os desconhecidos também? Será que aprenderemos que as pessoas sem casa precisam de casa, que o preço das casas precisa ser mais baixo e justo, que todos precisam de renda, com ou sem emprego, que é isso que faz nosso mundo girar? Será que teremos mais feiras onde os produtores vendem seus alimentos a preços justos e recebem o valor direto em mãos? Será que os pais e mães terão o direito de continuar a trabalhar mais horas de casa, ainda que não todas, e as crianças terão menos atividades extra curriculares, e mais tempo em família, tal qual os educadores tanto tentam ensinar nesses dias obscuros? Será que os educadores e enfermeiros serão valorizados e receberão tanto quanto médicos e engenheiros, agora que na calamidade vimos que não só não podemos existir sem eles, mas que o trabalho deles é duro e essencial?

Essas dúvidas existenciais, e práticas, me consomem. Mas também me consomem pensamentos muito mais banais e nem por isso menos essenciais, como se conseguiremos vender e comprar outra casa antes do bebê nascer, maior e num local com uma praça ou parquinho. Se as lojas estarão abertas para que eu compre pelo menos os móveis mais básicos, roupinhas e fraldas. Se continuaremos tendo emprego e forma de pagar por tudo isso. Isso sem nem contabilizar na lista de pensamentos a parte do parto, hospital e saúde, em plena pandemia.

Por isso me perdoo por estar travada, olhando o voo das andorinhas. Sei que o feijão não pode esperar muito mais, e nem o imposto, nem o condomínio. Mas tudo parece tão banal quando somos confrontados com os verdadeiros valores da existência.

Quando perdi meus pais e meus avós, temas recorrentes dos meus textos, eu passei muito tempo sem me abalar por nenhum problema pequeno. Todos pareciam ínfimos perto da certeza do fim da vida. Nem mesmo um acidente de carro grave parecia tão sério. Tinha muita certeza da vida, do essencial, e embora um pouco apática, estava inabalável.

Dessa vez sinto esse mesmo distanciamento quando incorpóreo em relação as pequenezas da vida. Nada parece ser urgente o suficiente. Mas dessa vez não me sinto desconectada e indiferente ao resultado, como antes. Antes era só eu. Só mais uma vida. Agora não. Agora somos plural. E eu preciso vencer o voo da andorinha, e fazer o feijão, e o imposto, e pagar o condomínio. E dar um jeito de gravar tudo, e trabalhar ainda mais do que antes. E preparar a casa. E manter a mente consciente e presente. E ainda por cima preciso manter a calma, a saúde e a paciência.

Quando diziam que mãe tem que dar conta de tudo, eu ainda não tinha entendido o tamanho de tudo. Eu sempre dei conta de tudo. E sempre fui muito boa nisso. Mas o tudo do mundo de um, é muito diferente. Agora não somos dois, enquanto casal, ou três enquanto família, somos o mundo todo de um outro alguém. E se essa responsabilidade já pesa em qualquer ombro, em qualquer momento, pesa ainda mais agora.

Eu sei que de um jeito ou de outro vou dar conta. Por que sempre dei. Por que fui feita assim. Já elicitamos todos os possíveis cenários, dos mais incríveis aos mais calamitosos, já fizemos planos A, B, C e até Z para todos os casos.

E sei que nenhum deles vai ser a realidade.

E pensamos na família, do outro lado do oceano, e o coração dói por eles, de medo, de saudade. E pensamos na família que vem, e o coração enche de luz e amor. E também os ombros pesam de responsabilidade.

Vem em paz e em luz, meu bebê. Você será sempre recebido com o melhor que pudermos te dar. Eu só espero, torço, desejo, e faço muito, para que esse melhor seja bom o suficiente. E é por isso, que eu destravei. Escrevi isso correndo, que é pra nunca mais esquecer, nunca mais travar. E vou só salvar e correr para pôr o feijão no fogo, e fazer toda a burocracia, e as aulas e o trabalho. Por mim, por você, por nós.

A vida nos trará inúmeras surpresas, mas saiba que desde o dia que te descobri, você virou prioridade. É um fato inevitável, mas forte que a vontade, mais forte que a racionalidade. Talvez isso seja o tal amor incondicional de mãe.

Vegetarianismo em Portugal

Eu, sempre às voltas com minhas receitas, preocupada com a saúde, sem deixar de pensar no orçamento, fui logo que cheguei aqui em Portugal, conhecer os mercados todos e verificar como seria. A boa notícia é que alimentação está entres os pontos mais favoráveis no baixo custo de vida local. A comida em Portugal é boa (excelente, diga-se de passagem) e barata! Além disso, muito mais familiar para uma brasileira do que a espanhola. Açaí na sessão de sorvetes do mercado? Temos! Tapioca para fazer em casa de manhã? Temos também.

Ainda não consegui ir num número aceitável de restaurantes vegetarianos/veganos, para escrever um post específico sobre comer fora, mas nesse que fiz para o BPM, já dá para se ter uma boa ideia do que é ser uma vegetariana (com orçamento limitado) em terras lusitanas!

“Vegetarianismo em Portugal: variedade e custos.

Eu sou vegetariana, ou lacto-ovo-vegetariana, sendo mais específica, ou seja, não como nenhum tipo de carne animal, mas como eventualmente derivados de leite, ovos ou mel. Quando parei de comer carnes, morava em Brasília, e facilmente me adaptei ao novo cardápio. Nunca tive dificuldade de me alimentar assim morando lá e muito menos em São Paulo, onde morei depois por mais 2 anos. A variedade e disponibilidade de feiras, onde se consegue comprar vegetais frescos a bom preço é enorme no Brasil, e ao contrário do que algumas pessoas pensam, a alimentação sem carnes é consideravelmente mais barata do que a onívora. É só lembrar que vegetarianos não precisam de nada especial, é só não comprar a carne, e comer todo o resto!

(…)

Talvez por estar em uma cidade média, o processo de adaptação foi muito fácil, quase imperceptível…” Para ler o texto na íntegra, clique aqui!

Sagas burocráticas

Lá no BPM (vixi, Ju, mas agora você só fala dessas Brasileiras? Sim, amores. Elas são uma nova família, e é uma delícia contribuir lá. Então vamos divulgar, ler, se conhecer e de quebra, ajudar mais pessoas perdidas nesse mundão com muita informação!), então, como ia dizendo, lá no BPM, publiquei um texto sobre uma das maiores sagas burocráticas que vivi nesses últimos anos, e olha que não tem sido poucas. A diferença é que essa foi mega intensa. Era um vai ou racha daqueles e com poucos dias para decidirmos se ia ou rachava. No fim… você vai ter que ler lá, né!

“Como transferir um carro da Espanha para Portugal?

Antes de vir morar em Portugal, eu e meu marido estávamos na Espanha. Lá compramos um carro, um pequeno Ford Ka usado, para uso pessoal, fazer nossas viagens e conhecer mais lugares. Nele viemos de mudança para Portugal, e posso dizer que nosso pequeno Ford Ka foi guerreiro, trazendo nós dois, mais nosso cão, e toda nossa mudança, constituída basicamente de roupas e acessórios, equipamento de camping e uma televisão. Ainda assim atravessamos desde a fronteira com Andorra, passamos os Pirineus, chegamos à costa e de lá viemos conhecendo cidades como Valência, Murcia, Almería, Córdoba, Granada, Cádiz, Sevilla, até entramos em Portugal pelo Algarve. E depois subimos passando por Lisboa, Cintra até chegar à Braga, no Norte.

(…) Aqui chegando, e resolvendo as primeiras pendências, começou um outro processo. Quando saímos da Espanha tínhamos apenas cerca de mais um mês de seguro pago, e não queria ter que renovar mais um ano de seguro para aproveitar apenas alguns meses e depois ter que fazer um novo perdendo o valor do anterior… “

E aí, JuReMa, foi ou não foi? Lê aqui e descobre!

 

English Online

Hoje vai rolar om crossover episode das paixões da minha vida aqui. Em março eu escrevi para o BPM sobre minhas decisões profissionais, e como me tornei professora de inglês à distância. Eu começo contando um pouco da minha trajetória de vida e profissional, mas é melhor ler no original né?

“Ensinando idiomas online.

Sou internacionalista por formação superior, mas quando me perguntam minha profissão não tenho dúvidas em responder: Sou professora!

Comecei a dar aulas de inglês aos 18 anos, por necessidade. Eu estudei na mesma escola de idiomas dos 12 aos 18, fiz o curso de inglês completo deles, fiz intercâmbio, pulei nível na volta, fiz aulas com adultos quando tinha só 15 anos e me sentia deslocada na turma, mas segui, firme e forte. Tive muito apoio dos professores, que adaptavam temas de redação sobre entrevistas de emprego e mercado profissional para temas mais próximos da minha realidade no momento, como prestar exames e busca por orientação profissional. Aos 16 estava formada, com inglês fluente, e comecei o francês, na mesma escola.

Para acabar com o suspense, leia aqui.
Mas se você tiver curiosidade e quiser conhecer meu trabalho, sugiro seguir nas mídias sociais, English Online no Facebook, e @teacherjumarra no instagram.
Além disso, se quiser marcar uma conversa, me contacte por mensagem nas mídias ou pelo teacherjumarra@gmail.com  e conversamos sobre esse tema!
Afinal, de codenomes beija-flor eu já faço escola, né, JuReMa, Teacher JuMarra, sem falar nas Clarices, Alices, Adrianas, Cecílias, Marias, e tantas outras que eu fui e sou.

BPM – Portugal

Para quem não sabe, minha parceria com o BPM começou no ano passado, e desde então venho contribuindo com um texto mensal para a plataforma colaborativa das Brasileiras Pelo Mundo. Até janeiro desse ano publiquei lá textos sobre minha experiência na Espanha. Desde de fevereiro comecei a publicar sobre minhas experiências em Portugal. Por mil motivos, mas o principal deles, a necessidade e me organizar numa vida nova aqui, estava com o Blog da JuReMa meio parado. Agora vou atualizar e quem ainda não me leu no BPM, recomendo.

Vou colocar aqui o teaser dos textos, e o link para terminarem de lê-lo na publicação original. Assim aproveitam e já continuam por conhecer e explorar mais uma fonte deliciosa de informações, desse nosso vasto mundo!

“Cheguei em Braga, e agora?

Cheguei em Braga, Portugal,  depois de um tempo na Espanha, de algo que não era exatamente para ser, mas acabou sendo meu ano sabático, e volto a botar os pés no chão e retomar os rumos da vida. Quando meu marido veio para a Europa, fomos viver na Catalunha, e eu tinha muitos planos de trabalhar, viajar, fazer contatos, escrever, cozinhar, enfim, gosto de um planejamento com opções A, B, C, D… Z, e sonho alto.

A realidade, entretanto, nem sempre acompanha. A burocracia pode ser mais lenta do que os sonhos esperavam, e o dia a dia em um novo país demanda mais do que eu imaginava. Entre altos e baixos, meus altos incluíram muitas trilhas a mais de 2500m de altitude, muita montanha, neve, sol, lagos e mais lago, e os baixos foram lindos, com praias, cachoeiras, passeios na beira do rio, e por fim eu relaxei. Aceitei meu ano sabático, apertei os cintos e vivi de forma frugal e minimalista e deu tudo certo.

Agora viemos para Portugal. Cheguei em Braga, e agora? O primeiro passo foi tentar encontrar moradia, ou morada, como os portugueses costumam chamar… “

Para continuar a ler e saber como foi minha chegada: Cheguei em Braga, e agora?

Tudo bem

Tenho 31 anos. Sou órfã desde os 19 de pai, 25 de mãe. Nesse meio tempo perdi também meus avós, que me criaram. Quem já perdeu os pais sabe a estranha falta que é não ter ninguém que se preocupe especificamente com você. Saber que você é a preocupação maior do mundo de alguém é um tipo de cuidado e amor que só é explicado por quem cria.

Ela dizia que eu não dava trabalho. Nunca dei. Apesar de ter nascido de 7 meses, fiquei doente pouquíssimas vezes na vida, nenhuma grave. Sempre dormi 8h ou mais. Minhas notas na escola eram excelentes e ninguém precisava me mandar estudar. Eu não fiz grandes loucuras na adolescência, só umas bem pequenininhas. Na faculdade fui mais séria ainda. Me joguei nos estudos e trabalho com o afinco de uma adulta plena com família para sustentar. Ainda que não fosse o caso.

Mudei de emprego algumas vezes, mas nunca fiz dívidas. Mudei de casa muitas vezes, e pedi muito pouca ajuda. Mudei de cidade, de país, de continente, de país de novo, e cada vez precisei de menos. Vida minimalista, que cabe no bolso. Leve por opção, por propósito.

Às vezes meu irmão me pergunta se está tudo bem e eu sei que a pergunta dele é de verdade. Que ele pensa em mim e se preocupa, um pouquinho que seja, porque sabe que eu não dou trabalho, mas bate aquela pontadinha de preocupação e eu ganho um “tá tudo bem aí?” que eu sei que é de verdade. Não aquela pergunta por educação ou obrigação.

Eu não fumo, não bebo e não uso drogas. Bebi bem pouco numa fase da vida adulta que acabou logo. Sempre passei mal com menos de 2 doses. Cuido da minha alimentação. Cozinho quase tudo que como. Compro, pago as compras, corto, lavo, pico (ok, meu marido costuma picar mais que eu), mas dou conta do recado.

Essa sempre foi minha “missão na vida”, dar conta do recado. Sempre fui a forte, independente, otimista, tranquila. Nunca dei trabalho. Não precisam se preocupar comigo. Está tudo bem.

Eu sou hoje aquela pessoa independente, forte, corajosa, que desbrava cidades novas, empregos novos, dá a cara a tapa, sem nem se questionar como poderia ser diferente. Sou todinha aquela que meu avô me criou para ser, e se bobear, um pouco mais.

Eu faço Yôga, me exercito, faço trilha, caminhada, acampo, subo montanha. Passeio com meu cão, que é minha vida, todos os dias. Limpo minha própria casa. Até as plantas têm sobrevivido bem. Tenho manjericão na área dos temperos, brinco-de-princesa nas flores, e suculentas na decoração.

Medito, leio filosofia e estudo política nas horas vagas. Participo de dois clubes de leitura. Até costuro minhas próprias roupas quando rasgam ou precisam de uma bainha, luxos de ter crescido ao pé da saia da vó.

Sou consciente das minhas emoções e atenta para aprender com cada detalhe do meu dia. Para sublimar a raiva, e me alimentar de pôr-do-sol, uvas frescas e muito chá quentinho nas mãos.

De fato, eu não sei porque alguém se preocuparia comigo. Eu claramente, sei me cuidar, e me cuido bem. É claro que ninguém precisa saber da frustração de passar mais de um ano resolvendo pendência burocrática por conta das mudanças de país, ou do medo de dar algo errado que me acomete a cada semana.

Ninguém precisa se preocupar com as noites que chorei no travesseiro. Com os quilos que ganhei de ansiedade. Com a crise de enxaqueca que durou uma semana por conta da crise de decepção com a vida acadêmica.

Ninguém contabiliza as horas que eu passo indo e vindo dos mercados, pesquisando, para garantir que a alimentação saudável caiba no orçamento reduzido. As horas planejando e preparando as refeições.

Quando sento para jogar e conversar com os amigos no fim de semana, ninguém sabe da saudade que me aperta o peito. Do vazio que me abraça de madrugada.

O sorriso das fotos esconde que nunca na vida tive um dia dos pais pleno. Sempre dividida entre o amor do que não era pai, mas me criou e a falta do que era e não foi.

E que todo ano agora o dia das mães entrou na lista de dores e não de amores. Quem comemora as datas e até reclama de ter que dar atenção para a família não sabe o que é se sentir desconectado da realidade, porque nenhuma data dessas faz mais sentido.

Eu sei que ainda assim está tudo bem. Ainda assim eu sou forte, independente e corajosa. Continuo sem dívidas nem problemas financeiros. Sigo sendo saudável. E minha alegria é sincera. Aliás, rio muito e quase todos os dias.

Não podia ser diferente, sendo que casei com o cara mais incrível que conheci. Nunca pensei que poderia dizer que se meu avô tivesse conhecido meu marido, não só aprovaria, mas se orgulharia. Mas posso!

Mas isso não diminui o fato de que às vezes eu só queria colo. Queria lembrar de como era aquela paciência eterna da minha mãe de pentear meu cabelo, com minha cabeça no colo, não pela beleza ou arrumação dos pelos, mas pelo amor, intimidade e cuidado, de ficar horas ali, ganhando atenção e carinho.

É claro que tenho tios e tias que sempre me apoiaram, e que, caso eu precise, não hesitarão em ajudar. Mas eu sei que eu não sou a constante preocupação, justificada ou não, de ninguém. Existe uma falta abissal no mundo, quando você percebe que é bom mesmo você não dar trabalho, porque você já não é o trabalho de ninguém mais ali.

E aí, toda a força, independência e coragem, perdem um tiquinho do brilho, pois passam a ser não só mérito, mas necessidade.

E se eu assim não fosse? Nem quero pensar nisso. Não posso me dar o luxo de não ser. Então, sim, respondendo à pergunta clássica de todos os dias, é claro que está tudo bem! Como não estaria?!

Dia de Reis na Catalunha

No dia 06 de janeiro, Dia de Reis, foi publicado no BPM um texto meu sobre essa data, na forma como ela é comemorada em La Seu. Ainda não escrevi sobre Portugal, isso deve começar  mês que vem. Mas enquanto isso, convido vocês a darem uma olhada no texto.

“Quando me mudei, cheguei na cidade de La Seu D’Urgell dia 14 de dezembro e a cidade já estava toda decorada paras as Festas de Fim de Ano. Achei linda! Uma coisa que fez me apaixonar pelas Festas em cidades menores e de interior é o capricho com que as Festas são feitas, as decorações, a programação, que são muito bonitas, mas muito artesanais. Você se sente como em uma grande festa de escola! A cidade realmente participa de todo o processo, é algo feito pela própria população, com auxilio das instituições, prefeitura, cooperativas e organizações de comércio locais, para a população.

Aqui o Papai Noel não existe! Essa foi minha primeira surpresa. Não existe a figura do bom velhinho em lugar algum, e o que vemos espalhados por toda a cidade são os Minairons. “

Para continuar a ler, clique aqui, e boa leitura!

Sons novos e meus sons

Estou pela primeira vez escrevendo dentro da minha casa nova. Nossa. De verdade. Assim, tipo, de papel passado, que nem o casamento. Eu demorei quase um ano pra conseguir chamar o André de marido sem rir, ou me sentir uma dona de casa louca dos anos 50. Será que com o apê vai ser assim também? Ainda não me acostumei com os sons. Eles quase não existem, veja bem. Mais às vezes a porta do vizinho bate e eu não sei se foi aqui ou não. Sou de novo um alien, uma estranha, uma estrangeira, mesmo dentro da minha casa.

Olho um pouco pro lado e vejo meu cão, o Picot, esparramado no sofá. Temos um sofá esparramável agora. Isso também me assusta um pouco. Percebo que o som dos meus dedos nas teclas soam altos demais. A casa está silenciosa. O som é estranho. Parece que digito com mais força que o necessário. Parece que desaprendi a escrever. Esses sons, essa falta de som, vão me deixar louca. Pauso a escrita e aperto o play. Respiro, inspiro e expiro profundamente com as primeiras notas. Enya. É clichê. Eu sei. Mas as palavras voltam a fluir junto com o Oniroco nos meus ouvidos. Já não escuto meu pescoço estralando, a borracha das botas apitando no piso azulejado ou o som das minhas teclas ou das outras, pois em outro cômodo o André também está no computador dele. Dois mundos, duas vidas. Nessa nova casa cabem muitas.

É a segunda vez que mobílio uma casa quase que de uma vez só, considerando o básico. Isso sempre me assusta. Me sinto ousada demais, comprometida demais com essa vida, esse futuro. Mas aí lembro que não é a primeira vez que faço isso. Já aprendi que as coisas, os objetos, os móveis, as roupas, eles vêm e vão, com o vento, com a vida. E a minha é dessas. Às vezes me sinto abençoada até demais, e fico com medo do que espreita na próxima esquina. Em outras lembro de tudo o que já passei, e lembro que mesmo quando a onda sobe, consigo ver claramente, por baixo das espuma branca, o verde claro, o verde escuro e o azul profundo. Sim, eu conheço intimamente aquele azul profundo. Já estive lá tempo suficiente para aprender a respirar embaixo d’água. Para aprender que tenho nos meus braços fibra suficiente para retornar, quantas vezes forem necessárias. Sobrevivo ao mar porque sou maré. Vou e venho mais que ele, vou e venho porque sou quem o faz subir e descer.

Tinha esquecido do chá. Verde com raspas de laranja. Comprei em Granada. Que cidade maravilhosa. Estou devendo os detalhes dessa mudança louca e incrível. 2005, uma mudança de casa, a da infância para o purgatório. 2009, do purgatório para a (única de verdade) casa da minha mãe. 2012, fuga cega de lá, fugindo da morte e do futuro, refúgio no porto seguro da família. 2013, minha casa de bonecas, meu mundo turquesa, branco e lilás, com pássaros em todos os cantos! 2014/2015, um mês na casa do outro, descobrindo a vida a dois. 2015, a construção de um lar a dois. Pedacinhos da minha casa de boneca se fundiram com móveis de família, coisas que já estavam lá, novo e velho e sua síntese. 2016/2017, país, cidade, praticamente mundo novo. Nada meu, nada nosso. Nenhum direito à propriedade. Muito direito à liberdade. Neve e montanhas. Queijo de cabra e chocolate. Muita introspecção e muito saco de dormir, fogareiro e lampião. 2017/2018, ufa! Uma casa para chamar de nossa. Ikea. Espaço. Quartos. Assim, no plural. O barulho do trem na janela, e todos esses outros barulhos que ainda não sei nomear. 9 casas, e contando.

Só tive cortinas, dessa que se compra na loja, decorativa, em duas delas. As duas que mobiliei. As outras ou eram muito passageiras, ou não eram tão minhas. Quando pendurei aquelas cortinas turquesa, cheias de pássaros brancos, sabia que precisava daquela luz azul filtrada, e daqueles pássaros para decorar minha pequena gaiola de 20m2. Vivi empoleirada ali o tempo suficiente para aprender a voar. E voei muito. Muito mais longe do que imaginava. Só não tinha aprendido ainda, que para levar um coco, são necessárias duas andorinhas. Talvez por isso esse novo voo seja tão longo e as distâncias tão grandes. Agora somos duas andorinhas, levando esse coco pelo mundo. Olho minhas cortinas cinza. Penso nisso. Eu, que sempre fui fã das cores, de tudo junto e misturado, das casa de boneca, dos contos de fadas, agora tenho uma casa monocromática. Preto. Branco. Cinza. Talvez aqui eu perca o medo ou me acostume com a ideia de ser adulta. Não, o fato de 31 anos ainda não me fez aprender isso.

Ao mesmo tempo que vejo nesses muitos quartos, assim, no plural, e nos tons sérios, uma vida possivelmente mais adulta e muitas possibilidades e desafios incríveis, além de oportunidades muito boas e concretas, se abrindo nesse novo horizonte, sei que o armário da cozinha continua tendo cookies e chocolate cremoso. Que a faxina continua sendo postergada ao limite. Que nós ainda fazemos fortes de travesseiros, e todas essas almofadas desse enorme sofá somadas à mesa de centro só fazem isso ficar mais fácil.

Que parte da nossa decoração, a única do momento, se constitui em mini personagens de desenho animado, de plástico colorido, que ganhamos na promoção do supermercado. Agora nossos livros de filosofia e línguas dividem a prateleira com o Capitão Cueca, o burro do Sherk e a Zebra de Madagascar. Espero que essa síntese, das cortinas cinza e do burro de madagascar cueca me ajudem a continuar crescendo, a continuar mais próxima da espuma branca do que do azul profundo. Que eu não tenha medo dele, mas me lembre bem da sua cor e da sua falta total de sons para que os sons estranhos de agora não me assustem.

Lauper canta na minha orelha e eu lembro que é parte da vida só querer diversão. Que eu me autorizo a ter 31 anos, um apartamento digno de adultos e comer chocolate cremoso por cima dos cookies enquanto assisto maratonas do netflix debaixo do forte de travesseiros. Que eu me autorizo a me sentir soterrada pela burocracia, e que a vontade de jogar tudo pra cima não é só minha. Quem sabe um  pouco de som dos 80’s dançando na sala com o cachorro e rindo do marido não façam eu me acostumar com todo esse cinza, toda essa papelada e toda essa vida concreta da mesma forma que me acostumei com a palavra marido. Perdi o medo dela, depois de revirar que nem uma bala na boca, esperando derreter, que nem doce.

Continuo com medo dos ventos que me levam por aí em busca de novos sons e novos chocolates. Mas já sei que em vez de perder casas, vou colecionando elas. E pra deixar o momento mais perfeito a Salmazo me canta sobre a palhoça dela. Acho que vou lá tirar nossa fotografia do dia, e encher essa sala dos meus sons. Desconecto o fone de ouvido do computador e salvo o texto. Vou dançar comendo chocolate cremoso.

 

BPM no JuReMa: São Paulo X La Seu

Apesar de hoje já não estar mais morando em La Seu D’Urgell, a experiência de quase um ano nessa cidadezinha de apenas 12.500 habitantes marcou minha vida. Foi uma no off, pra descansar, colocar os pensamentos e sentimentos em dia, descobrir muito sobre meus gostos e vontades, repensar a vida e o mundo, e tentar achar meu lugar nessa interseção. Dia 19/12/17, o BPM publicou meu texto com esse comparativo absurdo entre viver numa das maiores cidades do mundo e numa pequenina.

Coloco aqui algumas frases para dar o gostinho e te convido a clicar aqui e ler o texto na íntegra.

“No Brasil eu já vivi em Brasília e em São Paulo, e embora as experiências tenham sido muito diferentes, são duas grandes cidades, com inúmeras oportunidades e problemas urbanos derivados de seus tamanhos e importância econômica e política. Nem eu nem meu marido nunca havíamos morado em uma cidade pequena, apenas passado algumas férias em lugares menores, mas sem a experiência da vida cotidiana, que é sempre muito diferente.

Quando estávamos avaliando nossas possibilidades de vir para a Europa essa dúvida, entre cidade grande e interior surgiu. Fizemos algumas listas de pontos positivos e negativos, e, por fim, e pelas necessidades e conveniências da vida acabamos parando em La Seu D’Urgell, uma cidade de aproximadamente 12.500 habitantes, na fronteira com Andorra. Para quem saiu direto do centro de São Paulo, uma anomalia em termos de tamanho, uma das maiores cidades do mundo, foi um choque e tanto. Já falei aqui um pouco sobre os choques culturais da chegada, mas dessa vez queria me atrever a fazer esse comparativo tão desproporcional entre as duas cidades.”

Mais Receitas Veganas para o Natal

Mais receitas veganas para o Natal, porque nunca é demais compartilhar inspiração para quem quiser ter um Natal sem carnes, lindo, saboroso e gostoso!

Eu ainda não sei como será nosso natal. Até ontem, e esse texto é de 08/12, nem casa nós tínhamos, hoje já temos! Yeyyyyy! Mas falta ter água, luz, internet, móveis, geladeira, comida na geladeira, fogão, etc. Nosso empenho nas próximas semanas vai ser organizar tudo e com sorte, e uma boa dose de trabalho duro talvez tenhamos algo para chamar de lar até o Natal. Se não, a gente enche os colchões de ar, liga o fogareiro e o lampião e faz um acampamento na sala de casa, e uma super ceia de feijões em lata e pepino em conserva, talvez pizza delivery! Huahauhauhua

Brincadeiras (e realidades) à parte, eu desejo a todos um Natal lindo, maravilhoso, aconchegante, cheio de amor, seja da família ou amigos, e espero que o ano novo traga novos ares, e novas decisões positivas para todos.

Fica minha dica de por onde começar: uma ceia vegana! Espero que gostem!

Feliz Natal! ❤