Diários do Cena: Qual o significado do seu nome?

Essa semana começou difícil, por vários motivos, apesar de muito boa Pichettambém. Juntaram em mim TPM, período menstrual e uma gripe avassaladora com garganta inflamada e febre. Vai aguentar tudo isso junto para ver como é bom. Garanto que bom pra tosse não é, só a faz piorar. Mas insisti no meu amor-próprio, nos meus remédios não convencionais de um tanto, que cheguei a exalar cheiro de própolis a ponto de tê-lo identificado pelos outros em um abraço!

Mas vamos com calma. Esse ano estou tentando coisas novas. Não, estou tentando coisas novas desde o ano passado. Não, sempre tentei coisas novas. Sou uma metamorfose ambulante, com raízes bem sólidas e identificáveis, contudo. Estou trabalhando no formato dos meus textos, e, talvez no formato do meu espírito, já que em situação tão Sofia, venho virando palavras e moldando-as e aprendendo a molda-las e aprendendo a me moldar.

Há um ano cai na toca do coelho, saí no Museu da República, e foi durante, e muito por causa do, Cena Contemporânea edição 2013, que esse blog saiu do mundo dos sonhos. Naquela época me descobri Alice antes de virar Sofia. Hoje me sinto muito JuReMa já! Portanto, Jurema sendo, não lhes contarei as aventuras e desventuras da Menina, mas as minhas mesmo. 2013 passou, e a versão 2014 veio de óculos, e com dedos começando a ficar afiados. O projeto Cinderela, dormir sempre antes da meia-noite, será suspenso por um período certeiro de duas semanas em prol da edição 2014 do Cena! E esse texto, é, portanto, o inaugural do Diários do Cena 2014!

Voltando a semana difícil, lá estava eu, acabada! No convés de um navio eterno, ao sabor de ondas enjoativas, cabeça rodando, e a voz perdida por aí, em outras madrugadas. O que faz uma pessoa assim, quando se é professora e precisa-se de voz e equilíbrio, físico e mental, para trabalhar e viver o dia-a-dia? Bom, eu fiz o que pude. Sobrevivi aos dois primeiros dias e hoje precisei ceder e me conceder um cochilo reparador. Exalando própolis, cheia de vitaminas, frutas, torradas e garrafas de chá, fui enfrentar a vida. Comecei bem, sendo logo ofuscada por um fusca, numa tesourinha brasiliense. Diria que uma maneira bem típica dessa cidade de ser ofuscada.

O segundo momento foi totalmente inspirado por este agora, meu novo exercício de expressão pelos dedos e por uma sugestão de uma amiga de trabalho. Com a voz extremamente prejudicada, optei por digitar instruções aos alunos no quadro interativo ao invés de falar. Qual não foi minha alegria ao perceber que os alunos, em vez de se rebelarem e criarem um motim, aceitaram prontamente meu ajudante virtual, e além de terem comportamento exemplar, suas vozes não passaram de sussurros em solidariedade inconsciente! Obrigada universo!

Depois do fusca ofuscante e das aulas mais calmas da minha vida de professora, que já soma nove anos, decidi ser forte e enfrentar minha prática de yoga apesar de a minha cabeça continuar dançando no convés do navio da gripe. Sobrevivi! E não só isso, sai de lá muito mais firme, com os pés no chão. Depois de um jantar gostosinho e indulgente, porém saudável, de tapioca recheada de refogado de cogumelos, seguida de um belo cappuccino sem lactose, entrei no teatro! Não sabia ainda se sairia de lá Alice, Sofia ou alguém novo.

Hoje não sou Alice, não sou Sofia, sou eu mesma, muito JuReMa, porém renovada! Ok, a garganta ainda arde e a gripe ainda não cedeu, mas vai. É preciso paciência também. Sai do teatro convicta de que chegaria em casa e dormiria. Mas não posso, não agora que as palavras começam a me aceitar em seu meio. Como gorilas que finalmente aceitam que eu cate seus carrapatos, mesmo que para isso precise de horas imóvel, as palavras começam a aceitar que as molde, mesmo que a meia-noite vire por alguns dias. Sim, isso significa posts frequentes pelos próximos dias. Está oficialmente inaugurada a temporada Cena 2014!

Mas por onde eu passei, para ficar assim, ainda mais centrada e tranquila? Pela sala de aula! Que maravilha! Como eu amo meus momentos de aprendizagem. E não, infelizmente não consegui ver Conselho de Classe, uma peça sobre professores, que está na programação do festival. O que você viu então, Jurema? Vi um exemplo lindo de pedagogia moderna, onde aqueles que esclarecem não forçam, penas suscitam a reflexão, apresentam exemplos, e depois os clarificam. Modelo perfeito! Vi também um choque de culturas digno de Samuel Huntington, onde o preciso, certeiro e minimalista se choca com os excessos e desperdício de energia, numa economia sofrível de movimentos dessa outra parte. Esse choque segue pela Civilização do Espetáculos de Vargas Llosa, onde percebemos que há minimalismo na extravagancia. Aprendi sobre a violência contida no barulho do raspar das unhas do dedão no dedo mínimo e sobre toda a reflexão acerca da morte que Kill me softly pode conter.

Às vezes não sei se o mundo está o tempo todo cheio de referências, se elas vêm na hora certa, se eu já acumulei tantas que leio-as num piscar de olhos, ou se minha sintonia com o universo está tão fina assim, mas é certeza que a cada dia que passa minha vida se encaixa melhor em si mesma. Quanto mais precisos se tornam meus movimentos, mais longe minha mente voa. Quanto mais longe vou, mais fundo dentro de mim mesma chego. Quanto mais sinto, menos penso. E quanto mais penso, mais aprendo a sentir.

Qual o significado do seu nome? Alice é aquela que cai na toca do coelho e reencontra a realidade da sua própria vida no surrealismo do País das Maravilhas. Sofia é aquela que brota das páginas, transformando-se de personagem em pessoa, ou no meu caso, aquela que penetra o papel, transformando-se em personagem. Pode não ser lindo, grandioso, ou perfeito, mas hoje sou quem eu quero ser. Hoje sou JuReMa. Juliana Reis Marra.

E isso significa que tenho valores reais, para afundar minhas raízes em terreno fértil, produtivo e seguro. Isso significa que tenho jogo de cintura para me adaptar a muitas situações e ser poeta quando convém. Isso significa que tenho um apelido fácil, curto e costumeiro, e que ninguém me chama pelo nome. Isso também significa que basta ligar um aspirador de pó para eu achar que tem alguém me chamando. Isso significa que meu nome contém minha bisavó Santinha, dona Ana, e sua mãe, dona Julia. E que quando colocados em ordem inversa, Julia Ana, Juliana, parece que bolinhas de gude de vidro giram em sua boca, nas palavras de dona Bia, que me presenteou com esse nome. Isso significa que tenho nome de marca de ervilha enlatada. Isso significa que posso ser e sou, várias. E você, qual o significado do seu nome?
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